quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Lar doce lar

Hoje eu estava pensando sobre o que faz a gente se sentir em casa... Não em casa na nossa casa, mas confortável na nossa pele, de que habitamos o nosso pedacinho do mundo e etc.
Esse "fenômeno" de se sentir em casa é bastante fácil de se identificar quando se está em casa, der! Parece bobo, mas é quando se viaja que se entende a dimensão desse se "sentir em casa".
Aqueles que já moraram fora sabem bem do que estou falando, a primeira vez que chegamos em uma casa nova, um lugar novo, e o telefone toca, por exemplo, você entra em pânico porque não sabe como atender, ou você atende automaticamente e quando a pessoa do outro lado diz algo que você não entende aí você entra em pânico... nessa hora, uma atividade corriqueira para você, se torna uma novidade. Nessa hora você percebe que sabe muito pouco de como se vive naquele lugar... "Como falar com as pessoas nas lojas? o atendente do supermercado? a telefonista da chamada internacional?" e percebe também que nunca havia pensado sobre isso...
Todas essas coisas que eram naturais para você, porque eram parte da sua CULTURA, em uma cultura diferente se tornam obsoletas, pelo menos até que você entenda o que também é parte da nova cultura em questão.
É nesse momento que todos entendemos o tamanho do desafio que nos espera e existem duas reações comuns. A primeira, de pânico total, você aprendeu tudo aquilo, inclusive a falar, quando era bebê e nem lembra mais como fez, e agora?! A segunda, de fascínio, porque até atender o telefone passa a ser algo fora da rotina e, portanto, desafiador.
Então, você é estrangeiro e, definitivamente, NÃO está em casa.
Feitas essas considerações, chega-se facilmente à conclusão de que se sente em casa quando se está em casa, e, se sente fora dela quando se está fora! Der, de novo! Seria simples, se fosse só isso, mas é possível se sentir em casa fora de casa? é possível se sentir fora dela estando em casa?
A minha opinião é que sim! Quantos de nós não se mudam permanentemente para outros países e constroem lá seus lares? Ou mesmo quantos não se mudam temporariamente e descobrem que não querem mais voltar? Ou ainda, quantos não vão sem ver a hora de voltar? quantos não se sentem fora, estando em casa?
Vocês já devem ter percebido que eu gosto de perguntas, isso é porque as perguntas certas levam às grandes descobertas e sobre essas perguntas eu tenho um palpite.
A cultura tem um papel fundamental na vida em sociedade, ela determina o que se pode ou não fazer, e como se deve fazê-lo, por exemplo, quando se pede por favor e quando um sorriso simpático basta, quando se dá uma gorjeta e quando não, ou seja, ela determina o que é ser "educado" e o que é ser "sem educação". Ela determina outras coisas também, mas essencialmente fazer parte de uma cultura é seguir as "regras implícitas" que ela impõe.
Na minha opinião, adaptação é essencialmente isso, é perceber o que é implícito naquela cultura e sociedade e se sentir confortável seguindo essas "regras".
Muitas vezes a gente vive sob uma cultura que não nos incomoda e um belo dia mudamos de país e encontramos um código que tem muito mais a ver com o que queremos para nós. As pessoas que encontram isso, são as que querem ficar, as que se voltarem não se adaptam mais, porque encontram um código, mesmo que um amálgama de dois códigos presentes nela, que as satisfaz, estão em casa.
Já as pessoas que não conseguem se distanciar, mesmo que somente para poder observar, de sua cultura e perceber o código implício na nova cultura, essas pessoas nunca vão se sentir seguras de estar fazendo a coisa certa, e portanto, nunca vão estar em casa.
Eu acredito, que algumas pessoas nasceram para "encontrar" a sua casa em algum lugar aonde se sintam confortáveis e habitar nela. Outras, nasceram com a capacidade observadora de rapidamente "perceber" a cultura do local aonde se encontram e logo se sentirem confortáveis nele, essas pessoas carregam sua casa, essa capacidade de se sentir a vontade, dentro de si e estão em casa em QUALQUER LUGAR.

2 comentários:

  1. Eu estou adorando os seus textos! Esses dias tenho lido diversos depoimentos de brasileiros que moram na Italia e é muito interessante ver como cada um lida com a nova cultura. Alguns tentam reconstruir ao máximo uma vida idêntica a brasileira, outros aceitam as mudanças com uma facilidade incrível.
    Quando resolvi criar meu blog pensava justamente em transmitir as informações desses novos códigos que estava aprendendo, das pequenas, mas fundamentais diferenças entre a cultura brasileira e italiana.
    Acho que a gente nunca pára de aprender. Bem, estou esperando o próximo post

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  2. Puxa, obrigada, agradeço muito seu interesse! Já trabalho com expatriados há uns bons anos e a coisa mais interessante de se ver é que esses dois comportamentos que você menciona são praticamente regra. O próximo passo, até para os que aceitam tudo fácil, é achar que já estão familiarizados com tudo e se pegarem em uma enrascada cultural, algum mal entendido do tipo que achavam que não cairiam mais...
    A propósito, gostei muito da proposta do seu blog, se puder, quando tiverem post sobre assuntos relacionados ao que escrevo aqui, por favor, me avise, meu tempo é curto e não consigo fuçar muito!

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