terça-feira, 17 de março de 2009

"Local" X "Estrangeiro" I

Você já reparou as coisas que a gente faz quando viaja? Dançar em mesa de bar, falar com estranhos, falar português e fingir que não fala a língua local para fugir de uma situação difícil, entrar em lugares que a gente NUNCA entraria em casa, fazer amizade com pessoas que não tem nada a ver com a gente... Na minha opinião,é aí que mora o fascínio de viajar, o distanciamento físico permite que a gente consiga se distanciar mentalmente dos nossos padrões também. A consequência de se sair de um lugar e se libertar da rotina, é libertarmos o nosso espírito, de tal forma que a gente não se obriga mais a se comportar desse ou daquele jeito, seguir essa ou aquela convenção, nem a dieta sobrevive! Os aventureiros de plantão que o digam, a vida do viajante é uma vida viciante porque você pode se reinventar e reinventar suas relações a cada nova parada. A condição para que isso se perpetue, no entanto, é permanecer na estrada. Quando se opta pela vida errante do viajante, você e todos a sua volta são sempre estrangeiros, e não há conflito nisso porque não ter pátria, não ter "sede", é a essência do que significa ser viajante, e é isso que permite que você se reinvente constantemente e sua vida não seja regida pelas convenções "locais".
A maioria das pessoas não consegue escolher essa vida porque precisam pertencer a algo mais restrito do que o "mundo todo". Frequentemente, as pessoas só precisam dessa sensação de liberdade por um curto período de tempo, que lhes permite "recarregar as baterias", e logo já estão prontas para voltar para casa. Existe também uma grande segurança em ser "local", a maioria das coisas podem ser feitas sem muita reflexão ou pensamento, você não precisa redefinir seu lugar, nem a posição que quer ocupar com frequência, seus alimentos prediletos, suas pessoas favoritas, seus hobbies, estão todos a seu alcance e você pode se confortar com a sensação de que a vida segue seu curso e você não precisa ficar traçando a rota de navegação ao longo da viagem.
Assim, escolher entre ser "local" e ser "estrangeiro" é escolher entre o conforto que se sente quando se tem tudo o que se preza ao alcance, e a liberdade de se poder escolher e redifinir o que se quer a cada parada. É também escolher entre ter a segurança de saber o seu lugar naquele "local" e saber exatamente o que se espera de você, e ter o distanciamento de quem pode escolher se quer ou não fazer parte daquele "local".
O motivo pelo qual estou fazendo essas reflexões sobre os conceitos de "local" e "estrangeiro" é porque quero iniciar uma série de posts esmiuçando melhor o assunto. Acredito que quem entende a diferença real entre ser "local" ou "estrangeiro", e qual deles é mais importante em determinado momento, pode decidir a posição que quer ocupar. E, assim, encontrar uma posição confortável, seja ele um "local" ou um "estrangeiro"

4 comentários:

  1. Muito interessante isso de local X estrangeiro. Nunca tive a experiência de viajar por ai a fora, mas tenho certeza que é uma enorme sensação de liberdade. Muito legal mesmo.

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  2. Obrigada pelo post Caio! Realmente, viajar é mágico, mas muito do que se sente viajando, se a gente conseguisse abstrair um pouco a gente poderia sentir por aqui mesmo! : ) Abraço

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  3. Gostei da temática. Acho que tudo tem o seu momento e a fase da vida. Talvez seja meio cansativo ser viajante o tempo todo. Talvez, alguém que decida ser viajante por muito muito tempo acabe se tornando um "local" entre viajantes.
    Por exemplo, visito sempre o site Tripluca e às vezes leio lá no forum discussão de gente que foge dos lugares turisticos a todo custo, simplesmente pelo prazer de poder dizer que não frequenta lugares turisticos. acho que isso é se tornar um "local" entre viajantes.
    Bem, espero os próximos posts. Gosto muito dos seus artigos.

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  4. Fico feliz que goste dos posts! Você tocou exatamente no ponto em que eu quero chegar, creio que a gente precise de uma segurança e mesmo quem escolhe a vida "errante" acaba encontrando meios de encontrar nela padrões. Se vocÊ reparar nos livros que escrevem os viajantes e publicações relacionadas vai ver que existe uma "ética do viajante", existem comunidades de viajantes, enfim... Essas pessoas também, mesmo que numa escala muito mais abrangente, encontram meios de se "encaixar". A alma humana não é fantástica?!

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