Você já reparou as coisas que a gente faz quando viaja? Dançar em mesa de bar, falar com estranhos, falar português e fingir que não fala a língua local para fugir de uma situação difícil, entrar em lugares que a gente NUNCA entraria em casa, fazer amizade com pessoas que não tem nada a ver com a gente... Na minha opinião,é aí que mora o fascínio de viajar, o distanciamento físico permite que a gente consiga se distanciar mentalmente dos nossos padrões também. A consequência de se sair de um lugar e se libertar da rotina, é libertarmos o nosso espírito, de tal forma que a gente não se obriga mais a se comportar desse ou daquele jeito, seguir essa ou aquela convenção, nem a dieta sobrevive! Os aventureiros de plantão que o digam, a vida do viajante é uma vida viciante porque você pode se reinventar e reinventar suas relações a cada nova parada. A condição para que isso se perpetue, no entanto, é permanecer na estrada. Quando se opta pela vida errante do viajante, você e todos a sua volta são sempre estrangeiros, e não há conflito nisso porque não ter pátria, não ter "sede", é a essência do que significa ser viajante, e é isso que permite que você se reinvente constantemente e sua vida não seja regida pelas convenções "locais".
A maioria das pessoas não consegue escolher essa vida porque precisam pertencer a algo mais restrito do que o "mundo todo". Frequentemente, as pessoas só precisam dessa sensação de liberdade por um curto período de tempo, que lhes permite "recarregar as baterias", e logo já estão prontas para voltar para casa. Existe também uma grande segurança em ser "local", a maioria das coisas podem ser feitas sem muita reflexão ou pensamento, você não precisa redefinir seu lugar, nem a posição que quer ocupar com frequência, seus alimentos prediletos, suas pessoas favoritas, seus hobbies, estão todos a seu alcance e você pode se confortar com a sensação de que a vida segue seu curso e você não precisa ficar traçando a rota de navegação ao longo da viagem.
Assim, escolher entre ser "local" e ser "estrangeiro" é escolher entre o conforto que se sente quando se tem tudo o que se preza ao alcance, e a liberdade de se poder escolher e redifinir o que se quer a cada parada. É também escolher entre ter a segurança de saber o seu lugar naquele "local" e saber exatamente o que se espera de você, e ter o distanciamento de quem pode escolher se quer ou não fazer parte daquele "local".
O motivo pelo qual estou fazendo essas reflexões sobre os conceitos de "local" e "estrangeiro" é porque quero iniciar uma série de posts esmiuçando melhor o assunto. Acredito que quem entende a diferença real entre ser "local" ou "estrangeiro", e qual deles é mais importante em determinado momento, pode decidir a posição que quer ocupar. E, assim, encontrar uma posição confortável, seja ele um "local" ou um "estrangeiro"
terça-feira, 17 de março de 2009
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Muito interessante isso de local X estrangeiro. Nunca tive a experiência de viajar por ai a fora, mas tenho certeza que é uma enorme sensação de liberdade. Muito legal mesmo.
ResponderExcluirObrigada pelo post Caio! Realmente, viajar é mágico, mas muito do que se sente viajando, se a gente conseguisse abstrair um pouco a gente poderia sentir por aqui mesmo! : ) Abraço
ResponderExcluirGostei da temática. Acho que tudo tem o seu momento e a fase da vida. Talvez seja meio cansativo ser viajante o tempo todo. Talvez, alguém que decida ser viajante por muito muito tempo acabe se tornando um "local" entre viajantes.
ResponderExcluirPor exemplo, visito sempre o site Tripluca e às vezes leio lá no forum discussão de gente que foge dos lugares turisticos a todo custo, simplesmente pelo prazer de poder dizer que não frequenta lugares turisticos. acho que isso é se tornar um "local" entre viajantes.
Bem, espero os próximos posts. Gosto muito dos seus artigos.
Fico feliz que goste dos posts! Você tocou exatamente no ponto em que eu quero chegar, creio que a gente precise de uma segurança e mesmo quem escolhe a vida "errante" acaba encontrando meios de encontrar nela padrões. Se vocÊ reparar nos livros que escrevem os viajantes e publicações relacionadas vai ver que existe uma "ética do viajante", existem comunidades de viajantes, enfim... Essas pessoas também, mesmo que numa escala muito mais abrangente, encontram meios de se "encaixar". A alma humana não é fantástica?!
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