terça-feira, 10 de março de 2009

Mais questões culturais

Bom, já havia iniciado a discussão (devo dizer que comigo mesma por enquanto), sobre a questão do idioma e a cultura. Creio que muitos de nós acreditamos que se aprendermos o idioma de um a determinada cultura e soubermos dizer o que queremos dizer nele, fluentemente, então seremos entendidos.
Tenho um teoria de que não é bem assim vou contar um pouco da minha história para vocês entenderem...
Meu namorado é inglês, inglês da Inglaterra mesmo, do sul de uma cidadezinha, que viaja todo ano de férias para a França ou para a Espanha e assiste o discurso da rainha no natal. Eu sou brasileira, com cara de gringa, mas brasileira,assisto a novela das 8 e acredito piamente em não se dizer o que se está pensando se eu achar que isso provocará certo desconforto no meu interlocutor; falo inglês fluentemente porque estudei a vida inteira, dou auls, traduzo e morei na Austrália. Conheci meu namorado no Brasil, até conhecê-lo nunca tinha ido para a Inglaterra, e ele achou "brilliant" ter encontrado uma namorada no Brasil que falasse inglês tão bem...
Enfim, pulando a parte do "in love" e "in love" (Piadinha interna, quem quiser entender tem que ler o post inicial desse blog, assim que aprender a linkar adicionarei um link para ele aqui), ele veio morar no Brasil. No começo ele não sabia nada sobre o Brasil nem de português, então nossa comunicação era toda em inglês, tenho inúmeras histórias ilárias para relatar desse período, mas não vem ao caso agora... Ele também não sabia nada sobre como abrir conta em banco, pegar ônibus, fazer compras, enfim, como todo mundo que já morou fora já se sentiu, ele era um bebê e eu tinha qe explicar tudo para ele... Então eu passava o dia "You have to get such and such bus" then you "Have to get of at...", "You have to talk to the assistant...", "You have to buy us a carton of milk..." Até o dia que ele explodiu: "I don't have to anything!" Eu, como toda boa mulher, fiquei ofendidíssima! "Quem esse gringo ingrato pensa que é para ser grosso desse jeito! (Toda delicadeza e sensibilidade cultural de uma pessoa que trabalha com isso!) Eu passo o dia todo tendo que dizer para ele como fazer tudo e ele me vem com EU NÃO TENHO que fazer nada?!". Essa briga durou várias caras feias e silêncios emburrados até que eu, novamente mulher ofendida, tive que tirar satisfação: "Como assim você vem me dizer que "não tem que nada" quando eu estou te respondendo o que você me pergunta?!" Então veio a explicação: "Why do you say I have to all the time? Why don't you say should or simply state what you want to say?". O problema era o "have"! Fui pesquisar! Queria saber o que havia de errado com o "have", porque em português eu poderia perfeitamente dizer "Para pegar o ônibus você tem que ficar no ponto, até que o seu ônibus passe aí você tem que acenar para ele..." Veja bem, na Inglaterra, um país individualista aonde as pessoas acreditam poderem fazer o que quiserem se tiverem condições para isso, a palavra "have" só é usada realmente em casos de obrigação, gramaticalmente pode-se dizer "You have to...", mas não se diz, porque é como dar uma ordem ao seu interlocutor... Imagina o que ele pensava quando eu dizia "You have to listen to me!!!". O resultado dessa história é que passei a dizer "Take the 115 bus and get of at...", que são construções imperativa e que em português indicam ordens, no entanto ele ficou feliz e eu não reclamo! Agora, imagina um executivo brasileiro falando para um executivo inglês "You have to come back to sign this"!

Nenhum comentário:

Postar um comentário