terça-feira, 24 de março de 2009

Moral

TED é o site de um projeto veiculado pelo slogan "Ideas Worth Spreading" que começou como uma convenção sobre Tecnologia, Entretenimento e Design,em 1984, e, hoje, tomou dimensões muito maiores reunindo as principais mentes de todas as áreas que, segundo o site, são desafiadas a dar a "palestra de suas vidas". Todos os dias, pela manhã, eu assisto um vídeo do TED como uma forma de iniciar meu dia com uma reflexão. Um dos meus temas favoritos é "Unconventional Explanations" (Explicações pouco convencionais), e na semana passada assiti um vídeo que me fez pensar muito e tem tudo a ver com o tema desse blog.

Assista aqui
Dan Ariely coloca alguns conceitos importantes sobre como nossa moral se define.
Em primeiro lugar, gostaria de ressaltar que a pesquisa dele foi feita no MIT nos EUA e que, portanto, pode ter alguma interferência da cultura local predominante. Tendo dito isto, também gostaria de colocar que os conceitos que me chamaram mais atenção, me parecem ter a mesma validade por aqui, mas essa é apenas a minha humilde opinião.
A primeira coisa foi que se a uma pessoa for dada oportunidade de trapacear, ela vai trapacear na medida em que se sinta confortável com a "trapaça", ou seja, que a trapaça lhe confira benefícios, mas não diminua a imagem que ela tem dela mesma.
A segunda é que a probabilidade de ela trapacear aumenta se ela perder o medo das consequências ou se ela sentir que de alguma maneira a trapaça dela é "menor" do que a "trapaça" que ela vê a seu redor.
A terceira é que a probabilidade de ela trapacear diminui se ela se sentir de alguma forma moralmente comprometida com a situação, se a "trapaça" colocá-la em uma posição de igualdade com algo com que ela não quer ser associada ou se ela for lembrada de um código moral que a proiba de trapacear.
Agora, imagine as implicações culturais que isso tem no Brasil!
Se vivemos em uma sociedade cuja cultura vigente é não se ver problemas em trapacear um "pouquinho", e que até dá um nome a isso, o famoso "jeitinho"; uma sociedade em que a lei existe, mas para a maioria da população as consequências de se desrespeitar a lei são quase nulas ou levam muito tempo; O que impede que as pessoas sejam desonestas? Sobra apenas um fator que impediria as pessoas de serem desonestas, a "imagem" que elas têm delas mesmas. O que te impede de fazer algo desonesto? O fato de você achar que aquilo te cololoca em uma posição de igualdade com algo com que você não quer ser associado, só. Então, se a sociedade como um todo cultiva pequenos hábitos desonestos e cultua modelos de desonestidade ou 'amorais', algumas contravenções simplesmente não farão com que você se sinta mal a seu respeito. Dessa forma, podemos concluir que vivemos em uma sociedade que 'deseconraja' deliberadamente a moral.
Pais, professores e líderes têm muito o que considerar sobre os fatores acima. Se fossem implantados códigos morais nas escolas, se fosse criada uma cultura de punição real pelas contravenções, se fosse apresentado um modelo 'amoral' com o qual as pessoas não quisessem se ver associadas, será que isso contribuiria para a moralidade geral da nossa nação? É algo a se testar!
Um ponto bastante interessante é as implicações disso quando se contrasta a nossa cultura com outras formas de ver o mundo, muitos brasileiros sofrem muito com essa questão da moral quando vão morar em outros países. Pelo fato de algumas sociedades verem pequenas trapaças, que vemos como sinal de "esperteza", como "desonestidade", muitas vezes, a nossa "esperteza" lá fora nos leva a sermos pessoas às quais os outros não querem se ver associados. Nossa atitude 'moralmente flexível', pode nos tornar um fator até de elevação da moralidade alheia, o que nos afasta ainda mais daquelas pessoas. Fazemos de nós mesmos os modelos do que 'não se quer ser'.
E se fizessemos o inverso? E se nossa atitude 'correta' pudesse servir de 'lembrança' para os outros de um modelo ao qual eles querem ser associados? Será que esse não é o apelo de tantas dessas personalidades mundialmente cultuadas como Jesus, Ghandi e etc.? Não sei se caso nossos valores transcendessem as barreiras das culturas seríamos amados e aceitos em qualquer lugar, mas existem suficientes provas no mundo de que seríamos, no mínimo, notáveis.

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