sexta-feira, 27 de março de 2009

Um Tailandês em minha vida

Eu trabalho há 12 anos em uma ONG, sem fins lucrativos que envia e recebe intercambistas do mundo todo como forma de promover seus ideiais de paz, o AFS. Já ocupei vários cargos dentro dessa organização e atualmente sou presidente de comitê e conselheira dos estudantes da região interior paulista. Bom, estou contanto tudo isso para explicar como o Danny foi parar em casa...
Em uma ensolarada semana de janeiro me liga uma das funcionárias da secretaria executiva do AFS e diz: "Karen, a gente só está conseguindo achar escola para esse intercambista tailandês na sua cidade. Você deixa a gente por seu endereço como família temporária, só para ele não perder a viagem e vamos procurando uma família para ele?". Eu topei, mas nem falei nada para ninguém lá de case porque o combinado é que ele teria família até a sua chegada.
Algumas semanas antes do Danny chegar, ele não tinha família oficial ainda, mas recebeu nosso contato e mandou um e-mail para todos os outros membros da minha família, menos para mim. Foi assim que todo mundo ficou sabendo que o Danny viria...
Eu sei, meu pai ficou furioso! Minha mãe preocupada em onde colocaríamos o menino, meu irmão já viu que seria ele a perder o quarto...foi um rebu! Mas no fim das contas, somo brasileiros, e não vamos deixar um menino sem casa, então concordamos que ele podia ficar conosco até encontrarmos uma família para ele.
No dia 13 de fevereiro, o Danny chegou da Tailândia e continua lá em casa...
O nome dele, na verdade, é uma coisa complicada, tipo Sanrasurn lalala, mas, como todos os tailandeses, ele têm um nome "ocidental" que facilita a nossa vida.
Logo que o Danny chegou em casa, nas primeiras horas, mostrei a casa para ele, aonde ele ia dormir e tal e fomos para a sala conversar. Eu pulei no sofá, havia vários sofás e cadeiras vazias na sala, e ele sentou no chão. Como eu estou acostumada a assumir que tudo pode ser apenas uma diferença cultural, eu perguntei para ele porque ele não havia sentado em um dos sofás, e ele me explicou que na Tailândia os mais jovens sempre procuram se sentar em um nível abaixo dos mais velhos, e quando não dá para ser mais embaixo, tem que ser pelo menos no mesmo nível. Nesse dia o Danny foi dormir cedo, afinal havia viajado muitas horas e acordou no sabado de manhã chorando ao telefone com os pais.
Fico imaginando o que é vir de tão longe, aos 16 anos, para um lugar aonde não falam nada da sua língua e não só isso, mas as pessoas têm uma cultura tão diferente! Deve dar muito medo!
O Danny chegou aqui dizendo que a última festa que havia ido fora há anos atrás e que só saia com a família a noite para casamentos e aniversários. A vioencia e a prostituição na Tailândia faz com que os pais sejam extremamente cuidadosos com os filhos, e, como eles têm uma cultura muito forte de obediência, os filhos entendem e aceitam que só vão sair, ir para festas, beber e essas coisa quando chegarem à universidade.
Nas primeiras semanas, ele comia de boca aberta, falava pouco e só saioa de casa de dia, acompanhado e a convite. Ele conseguiu despertar uma irritação geral e irrestrita do tipo "Come parece um cavalo!", "Pensa que aqui é hotel?" "A gente está se esforçando, e ele?" e etc. Nem parecia que a missão do AFS, de promover a paz através do inetrcâmbio cultural fosse possível, nem para nós que já fazemos isso há tantos anos!
Mas a garra que ele tem ao estudar português e as matérias da escola, mesmo não entendendo nada; a humildade que ele tem em ouvir quando o aconselhamos a se abrir e falar mais; a rapidez com que ele aprende e assimila nossos hábitos; são fascinantes e impossíveis de ignorar!
Além disso, também estamos aprendendo muito, já assistimos a um vídeo (2 horas em Tailandês!!!!) de amor da Tailândia, com músicas tocadas em um instrumento muito legal (já esqueci o nome) típico de lá, já comemos comida tailandesa que o Danny cozinhou para nós, e aprendemos muito sobre os costumes da Tailândia.
Antes de termos o Dan em casa, a Tailândia era um país oriental com praias paradisíacas, aonde haviam filmado James Bond. Hoje, a Tailândia é um povo que homenageia seu rei a cada sessão de cinema (segundo o Danny, tem que ser antes da sessão começar se não o povo vai embora), que senta em um nível abaixo dos mais velhos, que tira os sapatos quando entra em casa, que proibe seus filhos de sair de casa até que tenham condições de se defender sozinhos, que estuda MUITO, que faz silêncio, que agradece o tempo todo, que tem nomes ocidentais porque sabem que seu idioma é muito difícil para o resto do mundo... Mas, principalmente, a Tailândia é a casa do Danny, nosso irmão, que de mansinho está conquistando nosso afeto e uma morada em nossos corações, para sempre!

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